sábado, 17 de janeiro de 2009

OMB - Pra que?

Um arquiteto, quando faz uma obra, preenche uma ficha de Anotação de Responsabilidade Técnica (ART) que fica arquivada. O calculista faz a sua, o fiscal da obra faz outra e isso tudo fica arquivado. Se o prédio cair, o CREA levanta as fichas e vê de quem é a culpa. Claro que começam aqueles infindáveis processos e tudo pode não se resolver (vide os Palace!) mas existe isso em arquivo.

Quando um médico faz uma cirurgia ou um mero atendimento, ele é certificado pelo CRM, com o diploma registrado no órgão. A entidade é a primeira a partir pra cima dele (se não houver algum tipo de corporativismo envolvido - e olhem que eles são unidos).

Em ambos os casos, vidas estão em jogo e por mais que essas instituições sejam corruptas ou inócuas (como o caso do Conselho Regional de Administração) existem pra manter um pouco da ordem, afinal, não é qualque um que pode sair por aí calculando um prédio ou operando um cidadão.

Mas vidas estão em jogo por ouvirem um músico? Bem, a OMB acha que sim e parte do mesmo princípio que os Conselhos Regionais de outras profissões.

Ela procura proteger os ouvintes dos maus músicos. Imagine, você em um bar e a cantora desafinando horrores. Você pode ter graves problemas auditivos e é pra isso que a OMB existe. Ela protege inclusive os donos dos bares. Se o cara não tiver a carteira da OMB, já é certo que é um qualquer desqualificado pro exercício da profissão de músico e que com certeza colocara a vida dos ouvintes em perigo. Mas a OMB tem problemas. Existem muitos cantores e músicos que agridem o ouvinte com guitarras altas, ritmos arítmicos, baterias fora do compasso e outras atrocidades, mas por serem qualificados pela OMB, eles podem exercer sua profissão, por mais que esvaziem os bares ou afastem as pessoas da praça de alimentação onde se apresentam.

Quanto aos DJs, eu protesto. Como eles são artistas (algo amplamente discutido aqui) eles devem se submeter as leis da OMB ou criarem sua própria Organização, que poderia chamar-se CRDJ ou ODJ, a critério. Assim, caso o DJ seja ruim, ninguém vai ter problemas.

Lembro quando fui tirar minha carteira, da qual só tinha o protocolo até minha última mudança e o cara perguntou o que eu ia tocar. Falei que tocaria Minueto de Roberto de Viseo. Ele então me disse: "Ih cara, toca isso não, toca um treco bem simples pq tanto faz!" Grande orientação. Nunca mais voltei lá. Pra que?

Tenho um amigo que é um dos diretores do Sindicato dos Músicos do RJ e ele me disse o seguinte: "Temos que ser rigorosos pra não deixar qualquer um sair tocando por aí!" Quase perdi o amigo. Esse preconceito é uma merda. Eu não tenho a carteira e ele sabe disso e estávamos ensaindo para um programa de TV no dia seguinte. Eu era qualquer um? Curioso que ele ia tocar as músicas de "qualquer um" e com outro "qualquer um". É complicado pra alguns músicos aceitarem que qualquer um pode tocar. Mas é um fato. Meu bisavô não tocava nenhum instrumento, mas compunha músicas instrumentais tipo Nazareth. Minha bisavó tocava o piano e um maestro vizinho deles escrevia as partituras. Algum deles tinha carteira da OMB?
[]s
Alex Saba